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Silêncio

Em que momento o silêncio toma conta do seu ser? Quando você não tem mais segredos para compartilhar ou quando meses de sua vida parecem estar trancafiados em um porão profundo e inacessível?
Para Nora Grey, o silêncio não se resume apenas a amnésia que acometeu sua vida, ou na falta total de segredos. Quando Nora acorda em um cemitério, três meses após seu desaparecimento, o silêncio que grita em sua mente em seu coração parece ser, se não o maior, o pior incomodo que alguém poderia ter em sua vida.
Em Silêncio, de Becca Fitzpatrick, terceiro livro da Série Hush, Hush, a autora parece ir bem mais fundo nas emoções, na mazelas, nas dúvidas e incertezas que permeiam a vida dos seres humanos.
Já no prólogo o leitor leva um choque que provoca estranhamento, dor. Até que ponto uma pessoa, no caso um anjo, pode ir quando ama verdadeiramente alguém? E a resposta é dura, comovente e, como tudo o que a autora escreve, controversa.
A grande luta mítica entre o bem e o mal fica em segundo plano neste terceiro livro. Anjos decaídos, nefilins, arcanjos, todos parecem compartilhar sentimentos totalmente humanos, onde ódio, vingança prevalecem ao invés da já arquetípica ideia trazida pelo Cristianismo de “anjo = bondade” e “anjo decaído = demônio”.
Você passa o tempo todo em que lê o livro se questionando se tudo o que você sempre acreditou não passa de uma mentira. Se bondade e maldade são questões que dependem única e exclusivamente de pontos de vista ou se realmente, como disse Maquiavel “os meios justificam os fins”.
Veja bem, estou falando de um livro que foi escrito para adolescentes e que, de certa forma, é exatamente como todos os romances: tem beijos, declarações de amor, possibilidade de sexo, ciúmes, inquietações etc. Mas, se você olhar com a “luneta” correta verá que não é só isso, há muito mais, muito mais do que pode ser dito sem que eu me transforme em uma grande estraga prazeres contando toda a história.
A Nora passa boa parte da trama tentando fazer as conexões que estão perdidas em seu cérebro, mas que seu coração não esqueceu. A grande verdade é que guardamos muito mais o que o coração sente.
Ela reconhece Patch, primeiro pelo coração, depois pelo raciocínio e junto a ele, sem mais nenhum segredo, partem juntos para a grande batalha que se iniciou neste livro e com certeza terminará no próximo.
É uma história que vale a pena ser lida pelo envolvimento que ele proporciona, pela grande capacidade da escritora nos transportar para outro mundo, mesmo que ele seja totalmente fantasioso e ilusório.
Shakespeare fazia isso há séculos, por que hoje, em pleno século XXI escritores não podem mais fazer isso? Por que será que existe uma corrente que quer apenas o que chamam de “livros cabeça”?
Boa literatura de ficção é aquela que consegue criar um mundo paralelo tão forte que você terá dúvida, após a leitura, se seus personagens são reais ou não. Mas, quem disse que eles não existiram?
- Pelo menos na cabeça do escritor ele viveu, meses a fio, e ainda vive na cabeça de cada leitor que se dispõe a folhear página a página, de papel ou digital, não importa, e se deixar levar por horas para outros lugares.
Becca Fitzpatrick conseguiu, sem dúvida nenhuma, unir a leveza da trama direcionada aos jovens com um debate profundo que pode ser empreendido por cada um de nós. Mas, como diria Patch neste livro:
“- (...) estou tentado a fazer alguma coisa da qual provavelmente vou me arrepender.”

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